Levantamento realizado pelo Instituto Action de Pesquisa entrevistou eleitoras e eleitores dos nove estados da Amazônia Legal. Resultados revelam desconfiança com os representantes políticos atuais e preocupação com a conservação socioambiental da Amazônia.
Desde a redemocratização, a Amazônia nunca deixou de ser coadjuvante de luxo nas eleições presidenciais e para o Congresso Nacional. Na corrida eleitoral de 2022, a região, que compreende quase 60% do território do país, felizmente tem a devida posição estratégica na agenda política do Brasil e global, representada nos discursos e programas de candidatos e candidatos.
De acordo com análise do portal de jornalismo e ciência de dados Jota, a Amazônia consta, pela primeira vez, nos planos de proteção ambiental dos quatro candidatos mais bem colocados na disputa presidencial. Reflexo da maior da sociedade brasileira e pressão internacional por uma gestão ambiental eficaz, assuntos como garimpo, desmatamento ilegal, incêndios florestais e pobreza na Amazônia ganham espaço nos debates públicos. Especialistas ouvidos pelo portal apontam, no entanto, a falta de propostas mais concretas e que considerem a agenda climática, além de outros temas que afetam o bem-estar da população.
Legenda: Agenda climática e planos concretos para a conservação da floresta são necessidades para a Amazônia. Crédito: Rodolfo Pongelupe
Em comparação com as questões ambientais, as demais demandas das mais de 30 milhões de pessoas, segundo o IBGE, que vivem na Amazônia permanecem poucos vistas e tratadas. Por isso, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) encomendou umapesquisa de opinião que levantou e qualificou essas demandas dos moradores dos nove estados da Amazônia Legal, para entender: o que querem os eleitores da Amazônia? Quais suas necessidades, aspirações e desejos para as eleições de 2022?
Um levantamento feito por amazônidas, com foco nos amazônidas, para a Amazônia
O estudo, conduzido pelo Instituto Action de Pesquisa a pedido do projeto “Amazônia nas Eleições 2022”, liderado pela Fundação Amazônia Sustentável com apoio do Instituto Clima e Sociedade - iCS, é um levantamento inédito e atualizado sobre o eleitorado amazônida.
De acordo com a coordenadora de Políticas Públicas e Cooperação Internacional da FAS, Giovana Figueiredo, o estudo se destaca pelo foco que dá às necessidades e manifestação de ideias dos amazônidas sobre a Amazônia no contexto eleitoral.
“A pesquisa foi inovadora no sentindo de investigar como a população amazônida relaciona as problemáticas locais da agenda socioambiental na Amazônia com a decisão de voto de sua população”, afirma.
Durante maio e junho deste ano, foram realizadas 2.824 entrevistas, entre formulários quantitativos e entrevistas qualitativas em profundidade, com moradores de capitais e interiores amazônicos. A margem de erro amostral quantitativa é de apenas 1,6%, garantindo alta confiabilidade dos dados.
Acesse o site sobre a pesquisa, baixe o resumo executivo e confira a seguir alguns destaques da pesquisa:
Saúde e educação são prioridades para o eleitor amazônida. Combate ao desmatamento e queimadas estão entre os assuntos-chave
A pesquisa ainda abordou os temas que os amazônidas consideram prioritários nos debates dos presidenciáveis. Em uma escala de 0 a 10, listaram: saúde (9,3), a educação (9,2), a segurança (8,8), o combate à corrupção (8,8) entre os primeiros lugares. O meio ambiente apareceu na sétima posição (8,3).
Fonte: Resumo executivo da pesquisa Eleições 2022 na Amazônia
Legenda: Saúde é prioridade entre os eleitores amazônidas. Crédito: Rodolfo Pongelupe.
Considerando os temas essenciais nos programas dos candidatos e candidatas, os eleitores entrevistaram apontaram “combate ao desmatamento” (41% dos entrevistados), “preservação da floresta” (21,7%), e “diminuição das queimadas” (13,2%). Outros temas relevantes como combate ao garimpo ilegal, aumento das áreas de conservação da floresta, desenvolvimento sustentável e poluição dos rios e igarapés também estão na lista.
O superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana, ressalta que os resultados da pesquisa “mostram de forma muito clara e de maneira inédita que a dimensão ambiental, ou melhor, os temas ambientais são muito importantes para o eleitorado da Amazônia. O estudo mostra de forma específica que o eleitorado é contra o desmatamento, as queimadas e o garimpo”.
O crescimento recorde em número de focos de queimadas na floresta amazônica, especialmente durante a temporada de seca, é uma pauta que ganhou destaque em agosto com os efeitos dos incêndios chegando à grandes centros urbanos da região. No último dia 20 de agosto, um sábado, Manaus amanheceu coberta pela fumaça das queimadas.
“A questão das queimadas representa uma fonte de doenças e de enfermidades para a sociedade, da mesma forma que a poluição dos rios por mercúrio, que está associada ao garimpo, representa também uma ameaça à saúde aos moradores da Amazônia”, reforça Virgilio Viana.
Entrevistados associam a região à cuidado e a floresta conservada ao bem-estar
Também foi pedido aos participantes da pesquisa para que resumissem a Amazônia em poucas palavras: “preservar”, “nossa casa”, “vida”, “cuidar”, “bom lugar”, “amor” e “investimento”.
Ainda segundo a pesquisa, 91% dos entrevistados concordam com a afirmativa de que as árvores nas ruas e praças podem diminuir o calor, confirmando a importância da arborização urbana nos planejamentos públicos. Além disso, 88,8% dos amazônidas afirmam que conservar a floresta faz bem para a qualidade de vida da população de toda a região amazônica.
Quase 80% dos entrevistados acreditam que o país deve ter leis mais severas contra o desmatamento e 79,5% está de acordo que os povos que vivem na floresta precisam ter seus direitos e vidas respeitados para garantir que a floresta permaneça viva. Além disso, 87,4% afirmam que as escolas deveriam ensinar mais sobre temas da Amazônia, incluindo a educação ambiental.
Legenda: 69,4% dos entrevistados acreditam que é possível gerar emprego e renda na Amazônia sem recorrer ao desmatamento. Crédito: Dirce Quintino
Fonte: Resumo executivo da pesquisa Eleições 2022 na Amazônia
Amazônidas não se sentem bem representados por líderes políticos, têm pouca confiança em políticos e querem líder nacional que conheça e tenha planos de conservação para o bioma
Outro aspecto analisado pela pesquisa foram as figuras de influência na decisão do voto. Ou seja, pessoas, organizações, personalidades públicas e familiares dos entrevistados que eles confiam e a quem procuram. As respostas indicam que 45,3% não consulta ninguém para decidir o voto; e 37,2% vai recorrer à família e amigos. A propaganda eleitoral vai ser referência para 8,8% e somente 3,1% do eleitorado considera a opinião de políticos.
A pesquisa também abordou as percepções de diferentes segmentos sociais na Amazônia sobre representatividade na política. Apenas 8,1% dos eleitores jovens (entre 16 a 24 anos) dizem estar bem representados em ambos os níveis. 49% das mulheres se sentem mais representadas nacionalmente do que regionalmente. Entre os entrevistados indígenas, 11,1% consideram estar bem representados no nível regional; e para os quilombolas essa proporção é de 12,9%.
Outro ponto avaliado foi o fato da candidata ou candidato à presidência conhecer temas estratégicos para o desenvolvimento da Amazônia. Para a 58,2% esse será um fator de influência na decisão do voto.
Ainda de acordo com a pesquisa, 84,5% dos amazônidas concordam que a conservação da Amazônia precisa fazer parte do plano de governo das candidatas e candidatos à presidência.
No âmbito nacional, o Painel Farol Verde reflete necessidade por candidaturas mais verdes e inclusivas
Os resultados do estudo sobre representatividade política e demandas por representantes defensores do meio ambiente estão alinhados e complementam o panorama apresentado pelo Painel Farol Verde.
Desenvolvido pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS Brasil), esta é uma plataforma que oferece ao eleitorado nacional informações confiáveis e dados sistematizados e atualizados sobre a “adesão” e o “potencial” comprometimento de candidaturas à Câmara Federal e ao Senado com relação às pautas de Mudanças Climáticas, Sustentabilidade Ambiental e Direitos Socioambientais nas eleições de 2022.
O Painel Farol Verde agrega, até o momento, informações de 585 candidatos(as) para o Congresso Nacional entre novos e candidatos à reeleição. Os dados foram coletados nos portais oficiais da Câmara e do Senado e também fornecidos voluntariamente por novos candidatos por meio de respostas em formulário.
O projeto avalia o posicionamento e atuação dos políticos em assuntos relacionados às mudanças climáticas, ao meio ambiente e à sustentabilidade socioambiental.
Para avaliação dos candidatos à reeleição (486 candidatos) o painel Farol Verde criou um Indicador de Convergência Ambiental, total (ICAt) e por matéria (ICAm). Esse índice (percentual) varia de 0% a 100%. Quanto mais próximo de 100%, mais alinhada(o) à agenda socioambiental deve ser considerada(o) a (o) candidata(o) à reeleição. O índice total (ICAt) é a resultante da média dos índices obtidos por matéria legislativa (ICAm) em que o parlamentar votou nominalmente no plenário da Câmara ou do Senado entre 2019 e 2022.
Os resultados mostram que na Câmara dos Deputados a média geral (ICAt) dos candidatos(as) homens e mulheres foi de 43%, ou seja, abaixo de 50% de convergência ambiental, que seria o mínimo para a Câmara ser considerada minimamente equilibrada e medianamente comprometida com as pautas socioambientais. Apenas 132 deputados (28%) estariam aprovados, com nota superior a 50% do ICAt.
O Senado apresenta um cenário mais balanceado, mas ainda insuficiente no quesito socioambiental. Entre os candidatos à reeleição, 32% de candidaturas tem média do Indicador de Convergência Ambiental total (ICAt) superior a 50%, 35% dos possíveis senadores têm índice entre 30% e 50% e 32% acumularam um índice abaixo de 30%.
Sobre o projeto Amazônia nas Eleições 2022
O projeto “Amazônia nas Eleições 2022” desenvolve ações de comunicação, advocacy e formação política para estimular o diálogo sobre a importância de fortalecer a defesa socioambiental no território no campo político. Por mais políticas pela conservação da floresta, com ênfase para agenda climática (combate ao desmatamento e à degradação, recuperação florestal e adaptação), além das agendas de diversidade e defesa dos direitos dos povos indígenas e populações tradicionais.
Realizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com parceria de diversas organizações socioambientais e apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), a iniciativa desenvolve as campanhas de comunicação “Eu Voto na Amazônia Viva” que buscam um diálogo com o público sobre a importância da informação contra o fenômeno das fake news e a mobilização para o voto consciente pela Amazônia. Para saber mais, acesse: https://euvotonaamazoniaviva.org/
Texto escrito pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), parceiro oficial do Painel Farol Verde.